segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Formas de povoamento disperso, a partir do século XVI, na Província de São Paulo

I- Morador Transitório
1- Cultivador Nômade – natureza da ocupação: precária; moradia capuava; unidade de agrupamento: bairro.
2- Agregado – natureza da ocupação: concedida; moradia capuava; unidade de agrupamento: bairro.
3- Posseiro – natureza da ocupação: de fato; moradia capuava; unidade de agrupamento: bairro.
II- Morador Permanente
1-Sitiante – natureza da ocupação: propriedade ou arrendamento; a moradia é chamada de sítio; unidade de agrupamento: bairro.
2- Fazendeiro – natureza da ocupação: propriedade; a moradia é uma fazenda ou sítio (designação comum na Província de São Paulo até os dias atuais); unidade de agrupamento: bairro.
O morador transitório é aquele que, não possuindo títulos legais, pode perder a terra onde mora a qualquer momento. Quanto a origem de sua fixação, no caso de São Paulo, deve-se destacar o foragido das autoridades, que desejava se isolar.
O agregado distingue-se do posseiro porque possui permissão do proprietário para morar e lavrar a terra, sem qualquer paga, salvo alguma prestação eventual de serviço. Já o posseiro é o que toma posse da terra sem permissão. Freqüentemente ignora a situação legal da terra que ocupa.
Quanto aos donos da terra temos o sitiante ou fazendeiro, e isso se dá conforme empregue ou não mão-de-obra estranha a família. Muitos dos que eram chamados fazendeiros eram possuidores de sesmarias. Estas foram a maior fonte de propriedade no regime colonial. Consistiam nas propriedades concedidas a quem as requeresse legalmente, com a condição de lavrá-las dentro de seis meses.
A importância da vida e trabalho familiares variava segundo cada um dos tipos de ocupação do solo, sendo máxima entre os moradores transitórios e mínima entre residentes das fazendas, que empregavam mão-de-obra externa e tinham, portanto, mais contato com os núcleos condensados de população.

Folk Culture e Evolução das Cidades Paulistas

Folk Culture

O termo em inglês para “cultura folclórica” se refere a todas as culturas que possuem elementos espontâneos, que remetem a tradições passadas de geração em geração e que ainda não foram corrompidas pelo meio externo.
Quando estudamos os caipiras de São Paulo não podemos cair nas falácias do conceito atual de Folk Culture. A sociabilidade que ocorreu nos agrupamentos rurais paulistas, devido às relações de trabalho (os mutirões) e as lúdico-religiosas, fez com que o isolamento não fosse total, salvo em raras ocasiões, nos casos de fugitivos da justiça.

Evolução das Cidades Paulistas

1º- Moradores Segregados
2º- Ereção de capelas, em patrimônios doados, que atraíram lojas e depois algumas casas.
3º- Elevação à categoria de Freguesias, já com núcleos de povoação esboçados.
4º- Elevação à categoria de Vilas, e depois a Cidades.
Nestes casos, a população rural foi se ampliando na periferia, onde apareceram novos bairros, que passaram a vila, e assim, sucessivamente, sertão adentro. O povoamento foi motivando a organização do território, segundo as necessidades da vida grupal.

Porque a família real veio parar no Brasil?

A Europa era palco da disputa entre Inglaterra e França pela hegemonia do continente. Napoleão, então, ordenou que Portugal participasse do boicote aos ingleses. Porém, Dom João, o príncipe regente, tinha, dívidas com a Inglaterra, que o impossibilitavam de romper suas ligações econômicas.
Dom João VI e sua corte fugiram o mais rápido que puderam para sua colônia mais próspera, o Brasil. Não houve recepção no Rio de Janeiro e a corte, após aportar, teve que dormir mais uma noite no navio.
Portugal rompeu então com o Bloqueio Continental de Napoleão, com a atitude tomada por Dom João. Algo semelhante aconteceu também na Rússia, quando o Czar Alexandre I abriu seus portos para os ingleses, que comprava a sua produção de trigo.
A França, por sua vez, teve seu exército enfraquecido e também possuía uma economia sem estrutura, sem potencial para substituir a Inglaterra nas suas relações com os outros países.
Depois que a corte portuguesa fixou-se no Brasil, a esquadra inglesa se instalou em suas águas. Concomitantemente, Dom João VI assumiu uma política interna em que: deu liberdade de comércio e de produção, oscilou entre o liberalismo e o mercantilismo (havia o liberalismo imposto pela Inglaterra e ao mesmo tempo Portugal acreditava que manteria o sistema mercantilista), fez uma reorganização administrativa na colônia e elevou o Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves (1815). O príncipe também invadiu a Guiana Francesa e realizou intervenções na região do Prata, anexando o Uruguai ao Brasil, o que seria então a Província Cisplatina.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O Camponês Caipira


Com que nomes e símbolos reais ou ilusórios essa gente rural dos sertões de ontem e de agora habita o nosso imaginário? O camponês, o caboclo, o caipira, o roceiro, o capiau, o sertanejo, o caapora, o caipora?
Que personagem do homem rural há dentro de cada um de nós? O lavrador rústico cuja lavoura substituiu a dos índios? O Jeca Tatu? O povoador de sucessivas áreas de fronteiras? Lembro –me aqui dos colonos do sul. Mazzaropi e Alvarenga e Ranchinho?

A mídia de tempos para cá criou um tipo de sertanejo moderno e acostumado com a cidade (tipo esse que Mazzaropi criticou em seus filmes). Entre Sérgio Reis e Milionário e José Rico e os velhos violeiros de “moda” e “cururu” há uma distância grande.

E grande também é a distância entre o relato apressado entre os viajantes e cronistas a respeito dos habitantes rurais da Província de São Paulo e os estudos recentes que procuram compreender não só os trabalhadores caipiras, como também s sitiantes, os camaradas, os colonos e os bóias-frias.

Antes de serem produzidos os primeiros escritos sobre o caipira de São Paulo, ele era como uma figura de sombra à beira do caminho, entre índios e senhores. Era um ator subalterno em sua própria história.
Isso me faz pensar que a condição, a identidade e o modo de vida (que Cândido tanto ressaltou em sua obra sobre Bofete) do caipira precisam ser desvendados pelos estudiosos. As leituras sugeridas vão de Monteiro Lobato a Cornélio Pires.* Dois pontos precisam ser pensados: é preciso corrigir a imagem do caipira e entender quais condições geraram essa gente. Uma forma de compreendermos isso é voltar os olhos para o sertão e rever o caipira. Observa-lo através de sua vida, no lugar onde ela existe em seu cotidiano.

Dizem que o nome é a janela da identidade. No dicionário, temos o caipira como “roceiro, matuto, acanhado, sem trato na cidade, camponês, aquele que habita ou trabalha no campo; rústico. Habitante do campo ou da roça, particularmente os de pouca instrução e de convívio; de modos rústicos e simples”. Dos dicionários gerais para os especializados a mudança é pequena.

Luis da Câmara Cascudo sugere que o caipira, além de tímido e de despreparado, é um sujeito que pode ser pouco confiável. Essa sugestão vem dos mitos populares. Da forma como quem está de fora enxerga o caipira. Cascudo designa-o assim: “Homem ou mulher que não mora em povoação, que não tem instrução ou trato social, que não sabe vestir-se ou apresentar-se em público (...)”. Habitante do interior, canhestro e tímido, desajeitado, mas sonso”.

Duas importantes referências para se compreender a essência do caipira de São Paulo: Cornélio Pires e suas “Conversas ao Pé do Fogo” (eu sugeriria também uma análise das modas de viola e os contos escritos por ele) e Antônio Cândido e suas pesquisas em Bofete, em “Os Parceiros do Rio Bonito”.

Gostaria de ressaltar alguns termos interessantes do livro de Brandão. Eis que os redijo aqui:
- Caipirismo: Acanhamento, gesto de ocultar o rosto.
- Capipiara: Que é do mato.
- Caapi (“carpir”): Trabalhar na terra, lavrar a terra; caapiara: lavrador (o caipira é sempre lavrador).
- O caipira é então roceiro e o lavrador.
- Diz-se do caipira “injurioso” ou “demônios malfazejos”.
* Ver: “Viagem a Província de São Paulo” - Auguste de Saint Hilare; “Conversas ao Pé do Fogo” - Cornélio Pires e artigos “Velha Praga” e “Urupês” - Monteiro Lobato.

Nosso país e o "boi tropical"


A raça Angus de gado é uma raça britânica de corte que se adaptou bem aos campos do sul e do sudeste do Brasil e firmou um novo padrão, o “angus tropical”. Sabe-se que todo o animal remete à carne: a grande parte traseira, a farta cobertura muscular de costela, a capacidade de ganhar peso em pouco tempo e a excelente distribuição de gordura. O animal tropical é resultado e seleção genética e observações a campo, que fixaram esse biótipo (mediano, carniceiro, precoce e de pelagem curta) que vem conquistando o mercado externo e visa também o brasileiro.

Constatou-se que o Red Angus (animal vermelho), ao contrário do Aberdeen Angus (animal negro), contrai menos parasitas e se adapta melhor ao clima dos trópicos. Os animais produzidos hoje no Brasil (principalmente nas cabanhas do sul) são P.O . (puro de origem), tem seu manejo reprodutivo realizado a partir de monta natural, inseminação artificial e transplante de embriões e o que é mais interessante, não ficam em regime de confinamento, são criados a pasto. È o que chamam de “boi natural”.

A base genética dos criatórios brasileiros foi feita através de importações, principalmente dos Estados Unidos e da Argentina. Atualmente não há mais necessidade de que se realizem importações maciças, pois o Brasil já possui animais adaptados ao nosso meio e de qualidade suficiente para dar suporte aos nossos criadores.

A conformação do Angus, como já vimos, é carne, e o desafio dos criadores brasileiros é manter as qualidades que ditam os padrões de excelência da raça. A carne deve ter um bom marmoreio (distribuição de gordura pela carne, o que lembra o mármore), que é o que garante sabor e maciez e também é um sinalizador de preço.

A questão é a seguinte: se o Brasil é o maior produtor de carne do mundo e possui, sim, como vimos, carne de qualidade para atender aos padrões internacionais, porque na prática, isso não acontece? A resposta é um pouco mais complexa do que parece. Poderíamos responder simplesmente que os nossos padrões ainda não alcançaram os de fora, mas, se pensarmos mais profundamente, o Brasil é, na sua essência, um país agropecuário (se estudarmos o período colonial, fica fácil de entender), mas o brasileiro não quer ter essa essência, ele não assume esse caráter. O brasileiro quer o produto que vem de fora da América Latina, porque há um inconsciente coletivo que diz que esse produto é melhor. E será que esse produto é realmente melhor? Porque o brasileiro não consome o boi natural? Porque está fora do seu orçamento? Também. Mas há mais por trás disso. Porque o Brasil não pode então ser um país como a China, que produz exclusivamente para a exportação? Essa pergunta considero mais fácil. Nosso país vive outro contexto, respira outros ares, vive outro clima, possui características claras de uma ex (?) colônia... e, convenhamos, jamais será socialista.









Cunha - Um convite a História


No dia 22 de maio de 2008 os alunos do curso de História do Departamento de Ciências Sociais e Letras da Universidade de Taubaté estiveram visitando a estância turística de Cunha, que está localizada na região do já extinto Caminho Velho, que levava às Minas Gerais. Lugarejo que no passado foi pouso de viajantes e guardou muito da história do nosso país.

O Caminho Velho fazia a rota Paraty - Vila Velha e por ele passavam, desde fins do século XVII (quando foram encontradas as primeiras jazidas de ouro por bandeirantes), além do gado, muares e cavalares vindos do extremo sul, produtos saídos das vilas paulistas como toucinho, aguardente, açúcar, drogas (medicamentos) e ferramentas.

Cunha se destacou como zona de passagem das tropas e conseqüente região de pouso e abastecimento dos que sonhavam com o enriquecimento fácil. A questão aqui é: as trocas realizadas na região durante todo o século XVIII e grande parte do XIX foram mais do que materiais. Foram fatores determinantes na formação da cultura local.

È possível observar, caminhando pelas pacatas ruas de Cunha, que muita da diversidade que havia no Brasil Colonial passou e criou raízes naquelas paragens. Fica muito claro para qualquer amante das ciências humanas que a cidade ainda tem muito a oferecer no âmbito da pesquisa científica. Muito ainda está esperando para entrar para os anais da História da povoação do sertão paulista, não somente nos recônditos lugares entre as serras de Cunha, mas na memória viva de cada morador.

sábado, 16 de agosto de 2008

Grécia - Democracia e Escravidão


Duas faces da mesma moeda


Quem instituiu a democracia em Atenas foi Clístenes. Ele redividiu a cidade-estado em dez tribos, no lugar das quatro que havia antes. Dessa forma foi neutralizada a influência dos eupátridas, eliminando o papel político tradicional de genos, tribos e fátrias. Procedendo à reorganização dos órgãos públicos, a Bule passou a contar com quinhentos membros (cinqüenta por tribo), os quais se revezavam no governo da polis; ao colégio de nove arcontes foi acrescentado um secretário (dez membros), um eleito de cada tribo. A Eclésia, assembléia popular composta por seis mil cidadãos de todas as classes, teve seus poderes decisórios ampliados, passando a fiscalizar a atuação das demais instituições políticas e votando as propostas da Bule.

A Eclésia tinha também o poder de votar o ostracismo - exílio por um período de dez anos - contra todos os que pusessem em perigo a democracia ateniense. O exilado não perdia suas propriedades, que lhe eram restituídas, juntamente com seus direito civis, ao retornar a cidade.

Essa democracia de Atenas era um sistema político da qual participavam todos os cidadãos, adultos, filhos de pai e mãe ateniense. Estes, no entanto, constituíam uma minoria da qual estavam excluídos os estrangeiros (metecos), os escravos e as mulheres.

O escravo, tido como bem móvel, não constituía uma categoria social desprovida totalmente de direitos. Na família senhorial recebia um nome e era associado ao culto doméstico. Mesmo como escravo, podia pleitear, representado pelo senhor, seus direitos na Justiça. E mais, ao amo era proibido, ao menos segundo a lei, injuriar gravemente, aleijar ou matar o seu cativo. O escravo injustamente seviciado podia até mesmo procurar refúgio junto a templos específicos e pedir aos sacerdotes que se pronunciassem quanto a sua venda a outro senhor. Mas de qualquer forma, não podiam votar.

Apresentação dos Capítulos

Ana Terra


O Capítulo entitulado Ana Terra narra a saga da família Terra, que saiu da província de São Paulo, mais exatamente de Sorocaba, a procura de uma vida melhor nas terras meridionais da colônia. O pai de Ana, Maneco Terra, nas palavras do próprio Verissímo, era um homem que falava pouco e trabalhava demais. Severo e sério, exigia dos outros muito respeito e obediência, e não admitia que ninguém em casa discutisse com ele (descrição bastante característica dos colonos, já brasileiros, que ajudaram a povoar o extremo sul no século XVIII). Maneco era casado com Henriqueta e tinha mais dois filhos, Antônio e Horácio.

Quando a família chegou a região de Rio Pardo, construíram seu casebre nas terras adquiridas pela carta de sesmaria. O lugar era desolado, distante da vila; era uma planície sem fim, muito propícia a ataques de animais, bugres (forma como os gaúchos designavam os índios) e castelhanos. E acabou sendo em um desses ataques que a família Terra foi dizimada, restando apenas Ana, ainda jovem, seu filho com um índio, e a cunhada.

Uma questão importante da saga de Ana Terra é o aparecimento do índio Pedro, de forma inusitada (Ana o encontra a beira da morte na sanga de águas límpidas em que costumava se admirar) e a conseqüente estada dele por muito tempo na casa da família. O índio Pedro simboliza a destruição das missões jesuíticas pelos portugueses e todo o misticismo que havia ao seu redor; mostra também quão profunda foi a infusão do catolicismo europeu nos índios da região.

Pedro engravida Ana. Ele acaba sendo morto pelos irmãos da moça (a questão da honra familiar era muito presente na mentalidade popular) e quando os castelhanos destroem tudo, Ana parte com um tropeiro, rumo ao próspero povoado de Santa Fé, carregando consigo o espírito austero e corajoso dos Terra. Espírito de quem já conhecia a guerra e a morte de perto.


Um Certo Capitão Rodrigo


O filho de Ana Terra, Pedro, se casa e tem dois filhos, Florêncio e Bibiana. Esta última se torna uma bela moça, bastante cobiçada pelo filho do fundador da vila de Santa Fé, Bento Amaral. Certo dia chega a vila um desconhecido, com pompas de capitão de milícias, e que decide ficar hospedado por uns tempos naquelas paragens. Era este o Capitão Rodrigo Cambará, um homem que já havia lutado em muitas guerras, a própria concretização do gaúcho. Devia andar lá pelo meio da casa dos trinta, montava um alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul.

O Capitão Rodrigo se apaixona e acaba se casando com Bibiana Terra. Mas ele era um homem do mundo, só pensava em suas batalhas, nos lugares onde ainda poderia lutar, porque estar na guerra era sinônimo de ser homem, de ter honra, de ser um gaúcho. Mesmo tendo aberto uma venda junto com o cunhado, Rodrigo por muitas vezes saiu em viagens demorando-se meses, deixando inclusive Bibiana grávida. Mesmo assim, foi numa batalha pequena, ali mesmo em Santa Fé que o capitão veio a falecer, dentro da residência dos Amaral, que desde a sua chegada foram seus grandes rivais.

Ninguém na vila entendia porque Rodrigo não se aquietou quando casou, não se esqueceu nunca das guerras. Mas este era o seu espírito, assim ele havia sido criado. E por mais que Bibiana tivesse relutado, esta forte característica do pai iria predominar em seu filho, Bolívar Terra Cambará.

O Tempo e o Vento – Fatos Históricos




Quanto à natureza histórica da obra O Tempo e O Vento de Érico Verissímo muito se tem a ressaltar. O primeiro volume da obra, O Continente, cujos capítulos estão em questão no presente trabalho, possui pontos importantes a respeito da história da povoação e formação do atual estado do Rio Grande do Sul.

Quanto ao primeiro volume se intitular “continente” temos também nossa primeira referência histórica. O título se refere ao Continente de São Pedro do Rio Grande, primeiro nome dado à região, lembrando que o sul da colônia teve um povoamento e uma colonização tardios, já que nos primeiros séculos, desde a chegada dos portugueses, o interesse se concentrou na faixa litorânea (extração de pau-brasil e construção de engenhos de cana de açúcar). Isso porque não havia interesse em habitar a colônia, mas sim de extrair suas riquezas e levá-las para a metrópole.

No século XVII a parte meridional da colônia ainda constituía uma grande mata fechada, com muitos índios vivendo livres e sem delimitação de fronteiras. Esse é um ponto que Verissímo destaca constantemente em sua obra: o continente era uma região sem dono nem ordem, palco de disputas territoriais, onde sobrevivia o mais forte; onde bandeirantes, portugueses e castelhanos matavam sem passar pelo crivo de qualquer lei, onde padres espanhóis se apoderavam de indígenas para cumprir suas ordens sob a bandeira da Igreja Católica.

Quanto ao povoamento e formação da identidade, fica bem claro na obra o sustentáculo da origem do gaúcho: o português (na sua maioria, paulista), o espanhol (que vinha da região do Rio da Prata e da Colônia do Sacramento) e o índio (guarani). Esse povo foi formando sua identidade em meio às guerras que aconteciam todo o tempo. As mulheres perdiam seus maridos, pais e filhos e foi isso que fez com que o gaúcho ganhasse esse aspecto varonil e em constante estado de defensiva que podemos observar hoje.

Primeiro, quando menina, esperou o pai; depois o marido. Criou o filho e um dia o filho também foi para a guerra. Viu o neto crescer, e agora o Licurgo também está na guerra. Houve um tempo em que ela nem tirava mais o luto do corpo. Era morte de parente em cima de morte de parente, guerra sobre guerra, revolução sobre revolução. Como o tempo custa a passar quando a gente espera!

(sobre D. Bibiana e seus pensamentos, depois de muito idosa)

Normandos e Platagentas

Até o ano de 1066 os ingleses foram governados pelos soberanos anglo-saxões da Casa de Wessex, que impuseram a unidade durante as lutas contra os dinamarqueses. Eram sete os reinos independentes: Nortúmbria, Mércia, East Anglia, Kente, Essex, Wessex e Sussex. Na segunda metade do século IX, Wessex domina os demais reinos, unificando a Inglaterra.

A coroação de Haroldo, após a morte de Eduardo, o Confesor, leva outro pretendente ao trono, Guilherme da Normandia, a Invadir a Inglaterra. Haroldo havia traído Eduardo e esse procedimento traiçoeiro leva Guilherme a decisão de invadir o reino inglês. Esse é um acontecimento muito importante na História da Inglaterra. Surge um novo reino insular e acabam as interferências nórdicas na ilha. A cultura francesa passa a dominar. Nunca mais a Inglaterra sofreria uma invasão.

Guilherme introduz no novo reino insular as instituições de um feudo (relações de senhor e vassalo, etc.), tal como já existia na França. A criação de feudos de fronteira foi uma das primeiras medidas do duque. Esses feudos tinham proporções maiores que os demais. Eles foram entregues a senhores de toda a confiança. Antes dos feudos havia guerreiros relativamente dependentes, os thanes, mas ainda não era concreta uma sociedade feudal. Apesar de trazer práticas e instituições francesas, Guilherme não abandonou a estrutura fundiária inglesa para construir uma rede de dependências pessoais. Os anos após a invasão normanda foram violentos.

A conquista dos normandos afetou também a situação da Igreja. A Reforma Gregoriana começou a se introduzir na ilha. No ano de 1070 o arcebispo da Centuária foi deposto e substituído por Lanfranc, um francês religioso notável em seu tempo. Foi ele quem tentou remover os bispos anglo-saxões, substituindo-os por prelados de origem normanda.

Durante o reinado de Henrique I são organizadas a justiça e a administração. Surgem os Pleitos da Coroa e o Exchequer, ou tesoureiro real. Eram registradas as rendas e taxas do reino num documento chamado de pipe-roll, da qual eram feitas duas cópias, umas das quais era de controle pessoal de Henrique. Essa seção da administração central inglesa recebeu um nome derivado do vocábulo francês échiquier (o jogo de xadrez), porque a mesa onde se faziam os cálculos era quadriculada.
Em meados de 1154 a dinastia normanda se extingue, dando lugar aos Platagenetas, isso porque a sucessão de Henrique I deu origem a um conflito que culminou em uma guerra civil, e acabou levando ao término da dinastia.


Os Platagenetas

O monarca Henrique II foi o primeiro platageneta. Ele organizou a justiça inglesa e procurou estender a competência da Coroa em assuntos criminais. Assim começou a nascer a Common Law, o direito comum. Ele pacificou o reino internamente e restabeleceu a autoridade monárquica sobre a nobreza insubmissa. Todos os castelos considerados ilegais foram destruídos. Também afastou de seus cargos os que haviam deles se apoderado e colocou no lugar pessoas da sua confiança.

Houve uma tentativa de submeter os clérigos à jurisdição dos tribunais leigos. Isso causou um sério conflito com o arcebispo da Centuária, Tomás Becket. Quando em 1163, no Sínodo de Westminster, o soberano revela o seu desejo de impor às terras da Igreja novas contribuições e de submeter os clérigos aos tribunais leigos nos casos de natureza criminal, Becket não acata. Henrique elabora as Constituições de Clarendon, que estendia a constituição civil aos limites da Igreja.

Henrique II também invadiu a Irlanda. Os Platagentas mantiveram por muito tempo vice-reis na região. Na época de João Sem Terra, o escolhido foi Guilherme, o Marechal, que por ter se casado com a filha de Ricardo de Clare, tornara-se conde de Pembroke. Sob o governo de Henrique III, muito se expande a colonização inglesa. Cidades e guildas (corporações de ofício) são levantadas, assim como pontes e castelos.

Após a derrota de Bouvines, insatisfeitos com a política de João Sem terra, os barões obrigam-no a assinar a Magna Carta, que lhes dava direitos.