quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Nosso país e o "boi tropical"


A raça Angus de gado é uma raça britânica de corte que se adaptou bem aos campos do sul e do sudeste do Brasil e firmou um novo padrão, o “angus tropical”. Sabe-se que todo o animal remete à carne: a grande parte traseira, a farta cobertura muscular de costela, a capacidade de ganhar peso em pouco tempo e a excelente distribuição de gordura. O animal tropical é resultado e seleção genética e observações a campo, que fixaram esse biótipo (mediano, carniceiro, precoce e de pelagem curta) que vem conquistando o mercado externo e visa também o brasileiro.

Constatou-se que o Red Angus (animal vermelho), ao contrário do Aberdeen Angus (animal negro), contrai menos parasitas e se adapta melhor ao clima dos trópicos. Os animais produzidos hoje no Brasil (principalmente nas cabanhas do sul) são P.O . (puro de origem), tem seu manejo reprodutivo realizado a partir de monta natural, inseminação artificial e transplante de embriões e o que é mais interessante, não ficam em regime de confinamento, são criados a pasto. È o que chamam de “boi natural”.

A base genética dos criatórios brasileiros foi feita através de importações, principalmente dos Estados Unidos e da Argentina. Atualmente não há mais necessidade de que se realizem importações maciças, pois o Brasil já possui animais adaptados ao nosso meio e de qualidade suficiente para dar suporte aos nossos criadores.

A conformação do Angus, como já vimos, é carne, e o desafio dos criadores brasileiros é manter as qualidades que ditam os padrões de excelência da raça. A carne deve ter um bom marmoreio (distribuição de gordura pela carne, o que lembra o mármore), que é o que garante sabor e maciez e também é um sinalizador de preço.

A questão é a seguinte: se o Brasil é o maior produtor de carne do mundo e possui, sim, como vimos, carne de qualidade para atender aos padrões internacionais, porque na prática, isso não acontece? A resposta é um pouco mais complexa do que parece. Poderíamos responder simplesmente que os nossos padrões ainda não alcançaram os de fora, mas, se pensarmos mais profundamente, o Brasil é, na sua essência, um país agropecuário (se estudarmos o período colonial, fica fácil de entender), mas o brasileiro não quer ter essa essência, ele não assume esse caráter. O brasileiro quer o produto que vem de fora da América Latina, porque há um inconsciente coletivo que diz que esse produto é melhor. E será que esse produto é realmente melhor? Porque o brasileiro não consome o boi natural? Porque está fora do seu orçamento? Também. Mas há mais por trás disso. Porque o Brasil não pode então ser um país como a China, que produz exclusivamente para a exportação? Essa pergunta considero mais fácil. Nosso país vive outro contexto, respira outros ares, vive outro clima, possui características claras de uma ex (?) colônia... e, convenhamos, jamais será socialista.









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