quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O Camponês Caipira


Com que nomes e símbolos reais ou ilusórios essa gente rural dos sertões de ontem e de agora habita o nosso imaginário? O camponês, o caboclo, o caipira, o roceiro, o capiau, o sertanejo, o caapora, o caipora?
Que personagem do homem rural há dentro de cada um de nós? O lavrador rústico cuja lavoura substituiu a dos índios? O Jeca Tatu? O povoador de sucessivas áreas de fronteiras? Lembro –me aqui dos colonos do sul. Mazzaropi e Alvarenga e Ranchinho?

A mídia de tempos para cá criou um tipo de sertanejo moderno e acostumado com a cidade (tipo esse que Mazzaropi criticou em seus filmes). Entre Sérgio Reis e Milionário e José Rico e os velhos violeiros de “moda” e “cururu” há uma distância grande.

E grande também é a distância entre o relato apressado entre os viajantes e cronistas a respeito dos habitantes rurais da Província de São Paulo e os estudos recentes que procuram compreender não só os trabalhadores caipiras, como também s sitiantes, os camaradas, os colonos e os bóias-frias.

Antes de serem produzidos os primeiros escritos sobre o caipira de São Paulo, ele era como uma figura de sombra à beira do caminho, entre índios e senhores. Era um ator subalterno em sua própria história.
Isso me faz pensar que a condição, a identidade e o modo de vida (que Cândido tanto ressaltou em sua obra sobre Bofete) do caipira precisam ser desvendados pelos estudiosos. As leituras sugeridas vão de Monteiro Lobato a Cornélio Pires.* Dois pontos precisam ser pensados: é preciso corrigir a imagem do caipira e entender quais condições geraram essa gente. Uma forma de compreendermos isso é voltar os olhos para o sertão e rever o caipira. Observa-lo através de sua vida, no lugar onde ela existe em seu cotidiano.

Dizem que o nome é a janela da identidade. No dicionário, temos o caipira como “roceiro, matuto, acanhado, sem trato na cidade, camponês, aquele que habita ou trabalha no campo; rústico. Habitante do campo ou da roça, particularmente os de pouca instrução e de convívio; de modos rústicos e simples”. Dos dicionários gerais para os especializados a mudança é pequena.

Luis da Câmara Cascudo sugere que o caipira, além de tímido e de despreparado, é um sujeito que pode ser pouco confiável. Essa sugestão vem dos mitos populares. Da forma como quem está de fora enxerga o caipira. Cascudo designa-o assim: “Homem ou mulher que não mora em povoação, que não tem instrução ou trato social, que não sabe vestir-se ou apresentar-se em público (...)”. Habitante do interior, canhestro e tímido, desajeitado, mas sonso”.

Duas importantes referências para se compreender a essência do caipira de São Paulo: Cornélio Pires e suas “Conversas ao Pé do Fogo” (eu sugeriria também uma análise das modas de viola e os contos escritos por ele) e Antônio Cândido e suas pesquisas em Bofete, em “Os Parceiros do Rio Bonito”.

Gostaria de ressaltar alguns termos interessantes do livro de Brandão. Eis que os redijo aqui:
- Caipirismo: Acanhamento, gesto de ocultar o rosto.
- Capipiara: Que é do mato.
- Caapi (“carpir”): Trabalhar na terra, lavrar a terra; caapiara: lavrador (o caipira é sempre lavrador).
- O caipira é então roceiro e o lavrador.
- Diz-se do caipira “injurioso” ou “demônios malfazejos”.
* Ver: “Viagem a Província de São Paulo” - Auguste de Saint Hilare; “Conversas ao Pé do Fogo” - Cornélio Pires e artigos “Velha Praga” e “Urupês” - Monteiro Lobato.

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