sábado, 16 de agosto de 2008

O Tempo e o Vento – Fatos Históricos




Quanto à natureza histórica da obra O Tempo e O Vento de Érico Verissímo muito se tem a ressaltar. O primeiro volume da obra, O Continente, cujos capítulos estão em questão no presente trabalho, possui pontos importantes a respeito da história da povoação e formação do atual estado do Rio Grande do Sul.

Quanto ao primeiro volume se intitular “continente” temos também nossa primeira referência histórica. O título se refere ao Continente de São Pedro do Rio Grande, primeiro nome dado à região, lembrando que o sul da colônia teve um povoamento e uma colonização tardios, já que nos primeiros séculos, desde a chegada dos portugueses, o interesse se concentrou na faixa litorânea (extração de pau-brasil e construção de engenhos de cana de açúcar). Isso porque não havia interesse em habitar a colônia, mas sim de extrair suas riquezas e levá-las para a metrópole.

No século XVII a parte meridional da colônia ainda constituía uma grande mata fechada, com muitos índios vivendo livres e sem delimitação de fronteiras. Esse é um ponto que Verissímo destaca constantemente em sua obra: o continente era uma região sem dono nem ordem, palco de disputas territoriais, onde sobrevivia o mais forte; onde bandeirantes, portugueses e castelhanos matavam sem passar pelo crivo de qualquer lei, onde padres espanhóis se apoderavam de indígenas para cumprir suas ordens sob a bandeira da Igreja Católica.

Quanto ao povoamento e formação da identidade, fica bem claro na obra o sustentáculo da origem do gaúcho: o português (na sua maioria, paulista), o espanhol (que vinha da região do Rio da Prata e da Colônia do Sacramento) e o índio (guarani). Esse povo foi formando sua identidade em meio às guerras que aconteciam todo o tempo. As mulheres perdiam seus maridos, pais e filhos e foi isso que fez com que o gaúcho ganhasse esse aspecto varonil e em constante estado de defensiva que podemos observar hoje.

Primeiro, quando menina, esperou o pai; depois o marido. Criou o filho e um dia o filho também foi para a guerra. Viu o neto crescer, e agora o Licurgo também está na guerra. Houve um tempo em que ela nem tirava mais o luto do corpo. Era morte de parente em cima de morte de parente, guerra sobre guerra, revolução sobre revolução. Como o tempo custa a passar quando a gente espera!

(sobre D. Bibiana e seus pensamentos, depois de muito idosa)

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